quinta-feira, 20 de maio de 2010

Preconceito se mantém grudado à evolução da mídia

A pior coisa para o trabalhador, em qualquer área do conhecimento, é o preconceito, cultura que como herança colonial há mais de meio século arrasta no dorso a sociedade brasileira.

Certamente não sou o primeiro nem serei o último a perceber e sentir a condenação e até mesmo olhar crítico condenando como a um preguiçoso ou ‘enrolador’, por passar parte do tempo a ler diariamente jornais e sites de notícia, ou a escrever textos que não os puramente técnicos ou burocráticos.

Para a maioria das pessoas que chegam aonde há um setor encarregado da comunicação social, especialmente a assessoria de imprensa, ao ver jornalistas diante do computador, buscando noticiário, logo imagina tratar-se de alguém que está a “enrolar” ou passando o tempo, ao invés de trabalhar.

Como evoluíram os meios disponíveis e mais ágeis, embora nem sempre eficazes, muitas vezes desastrosos até, o jornalista vê-se obrigado a também buscar notícias, contra e/ou a favor dos assessorados, na internet. O condenador não precisa verbalizar, pois seu olhar denuncia o que pensa quando vê o jornalista ao computador, lendo o noticiário – exercício importante, pois, embora virtual, depois de impresso, o conteúdo torna-se real.

Lembro-me dos tempos em que comecei a profissão, há mais de 30 anos, quando os meios de informação disponíveis eram apenas o rádio, os jornais e as revistas semanais. Normalmente – e isso continua se fazendo necessário hoje ainda – sobre a mesa do jornalista que lê os impressos também constam folhas de papel, tesoura e tubos de cola, ferramentas indispensáveis para se fazer o recorte de notícias, entrevistas, comentários e opiniões, para montar o clipping diário.

Para quem olha a mesa, aquilo não passa de bagunça. Não discordo totalmente. Talvez seja até, mas uma bagunça organizada, pois tudo que se rascunha, de guardanapos de papel a blocos padronizados, na mesa de jornalista tem sua importância e sem os quais não se elaboram boas notícias. Em meio àquela desordem, a gente acaba se achando. Se se tentar estabelecer uma ordem, talvez aí a coisa desande. E como não somos perfeitos, jornalistas também pode imaginar que tudo certinho demais pode ser outra coisa.

Repito que não há ineditismo no que relato, mas igualmente não é original o conceito nem tampouco seremos o último a tratar esse preconcebido comportamento sobre o desempenho e grande carga de responsabilidades jogada sobre os ombros dos estagiários e novos jornalistas. A eles são transferidas as ações que os antigos acham que diminuem sua competência. Também há mais de vinte anos, coleguinhas já assinavam artigos sobre a pecha de preguiçoso e enrolador dos jovens coleguinhas, quase sempre explorados pelos mais experientes.

Lamentavelmente, isso ainda hoje acontece e não vemos nada que nos alente Ainda hoje acontece, pegando da tesoura aos teclados e às impressoras, links etc. Imagina-se que o preconceito doa menos quando alguém fala abertamente “vida boa é essa: ler jornal e ficar grudado na internet!”

Colaboração:

William Jorge Heron, 51, é jornalista (MTbE-RO 153). Foi arquivista, repórter, tendo ocupado várias editorias até chegar a diretor de Redação de jornal. Atualmente é repórter da Agência Sebrae de Notícias.

1 comentários:

Felipe Araujo disse...

Me identifiquei muito! kkkk. E por pior que possa ser, realmente essa é a realidade dos profissionais que trabalham com comunicação. Mas, o que seria de toda empresa/órgão/instituição sem nós?

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